sexta-feira, 11 de junho de 2010

Escutar o Inaudível


A séria questão da interpretação das palavras dos Espíritos
por:Cristina Sarraf
Desde os tempos remotos da Grécia, Egito e outros povos antigos, tais como os celtas, por exemplo, há a séria questão da interpretação da palavra dos Espíritos.
Médiuns, na maioria mulheres com o encargo de sacerdotisas, mas também homens sacerdotes, recebiam mensagens dos deuses, como pensavam, geralmente sob efeito de alucinógenos -substâncias inaladas ou beberagens- para atingirem um certo desligamento do corpo e facilitarem a comunicação. Por isso e pelas convenções reinantes, a maioria dessas falas era obscura, simbólica e complexa; tanto que havia sacerdotes encarregados da "tradução", para aquele que pediu o conselho; ou para o povo todo, quando ocorriam em festas públicas, tais como os solstícios, época em que a sacerdotisa transmitia instruções espirituais em praça pública, direcionando as atividades coletivas daquele semestre.
"Traduziriam" com fidelidade? Haveriam interesses obscuros que os fizesse alterar o conteúdo das mensagens? Entenderiam tudo que era dito?
São perguntas cujas respostas precisam do testemunho pessoal dos envolvidos. Mas... estamos nesse mundo e suficientemente experientes para saber como o ser humano é, e podermos dizer que nem sempre essas traduções corresponderam ao que fora dito. Isso, independente da boa ou má fé porque, muitas vezes, equívocos são defendidos como verdades.
Mentiras ou interpretações mostram que, por muitas razões, pode haver um abismo entre o que foi dito pelos Espíritos e o que foi captado ou ?traduzido?, pelo médium ou por terceiros.
Minha experiência em anotar ou gravar e passar a limpo comunicações de Espíritos, mostra como ao se perder uma palavra, por inaudível ou ininteligível, nenhuma outra cabe naquele lugar. É impressionante! A tentação de colocar um sinônimo, que represente o sentido que a frase trás, soa esquisito, como se quebrasse o ritmo, a melodia harmônica que a fala tem. Mesmo uma mensagem bem simples ou até se for enganadora, carrega sempre a característica peculiar da soma entre o Espírito e aquele médium.
Com os recursos modernos da gravação e mesmo da tradicional anotação, até os médiuns falantes quando não muito conscientes, podem saber o que o Espírito disse por seu intermédio.
E voltamos à séria questão da interpretação do que foi dito. Por que é séria e por que ocorre?
Porque, deixando de lado as adulterações por interesses e má intenção, cada pessoa entende as coisas ao seu modo, segundo sua mentalidade, sua cultura, seus conhecimentos e sua visão de mundo, no momento analisado. Isso é um ponto pacífico, creio eu, em 2010.
Apesar desse fato, pode-se fazer um exercitamento de isentar-se, o possível, perguntando para si mesmo, em cada frase lida ou analisada: O que está escrito aí? Essa pergunta remete a pessoa a uma postura psicológica de intelecção, facilitando sua vontade de não interpretar.
Pensemos nas comunicações de bons Espíritos, para delimitar melhor essa análise. E lembremos que aspirações, necessidades, objetivos, conceitos, modos de pensar e ser compõem a mente do médium. Ao ler um texto que tenha transmitido mediunicamente, sem se colocar isento, procurando apenas entender o significado real das palavras que compõem as frases, ele pode, de boa fé, ?ler? diferente do que esteja escrito. Ou seja, interpreta! Põe de si nas palavras e julga que dizem o que não dizem, lendo o que está em sua própria cabeça.
Claro que não podemos ser totalmente isentos de nós mesmos e sempre, para o entendimento de qualquer coisa, há um tanto de interpretação. Mas isso não quer dizer que não se possa aprender a examinar as coisas com um tanto de isenção e penetrarmos com mais fidelidade no que foi dito/escrito.
Esse raciocínio serve para qualquer leitura, estudo e análise, não só o das mensagens espirituais. Mas, nosso foco são elas e as ilusões que se pode ter, ao interpretá-las segundo a nossa ótica.
Um interessante e público exemplo é o de uma irmã do médium Robson Pinheiro. Ela interpretou que ficaria rica e teria serviçais, após um Espírito dizer que quando fosse mais velha, tudo seria feito para ela e até o alimento posto na sua boca. O fato é que teve as pernas amputadas e se revoltou, profundamente com o Espírito, considerando que a teria enganado.
Kardec nos orienta a pedirmos para pessoas de nossa confiança que analisem as comunicações que recebemos, e que sejam estimuladas a nos darem um parecer verdadeiro. Até porque, ele argumenta, a responsabilidade do médium é transmitir a mensagem, mas o conteúdo pertence ao Espírito, mesmo carregando a participação impossível de ser evitada, das características do médium. Ler item 329 do capítulo XXIX de O Livro dos Espíritos.
No capítulo Laboratório do mundo invisível, Kardec faz um comentário, na questão 3 do item 127 dizendo: ?A experiência ensina que não devemos sempre tomar ao pé da letra/dar significação literal a certas expressões usadas pelos Espíritos. Interpretando-as segundo nossas idéias, expomo-nos a grandes equívocos. Eis porque é preciso analisar o sentido das palavras deles, todas as vezes que apresentem a menor ambigüidade; esta é uma recomendação que nos fazem, constantemente, os próprios Espíritos...?

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